Raquel Isidoro – Biografia

Brasileira, mineira de Belo horizonte nascida em 09 de fevereiro de 1965.

Aquariana buscando ser livre, com ascendente em peixes, mãe de dois homens maravilhosos.

Feirante, caminhava com seus fantoches e móbiles infantis pelas praças de BH. Desde os 16 anos Raquel começou seu trabalho pelo entorno da arte, criou durante todo seu percurso, na sua estrada da vida e afirma nunca mais estar só por ter a arte como sua maior companhia. Vida vivida a fundo, beleza no olhar e muita sensibilidade ao se relacionar com o mundo e com os outros.

Educadora a partir dos 18 anos, professora P1, pela Rede Pitágoras de Ensino, prosseguiu assim até os 30 anos,  mas sempre e até hoje presente com a Arte em projetos educacionais.

Raquel Isidoro

Aos 31 cria sua primeira loja, Clima de Festa, onde propõe a decoração de eventos realizando projetos cenográficos com plantas baixas e croquis, visitando espaços, transformando-o em vista aérea, relacionando materiais diversos, ideias de cenografia iluminação e ambientação, ocupando-se do projeto, planejamento, da produção à execução e à finalização incluindo a avaliação do projeto proposto e assinado.

Após alguns anos, abre seu primeiro Espaço de Eventos, Evviva La Festa, local arrojado e diversificado no coração da Savassi em BH.

Sua vida no ambiente da Artes Visuais começa aqui, no ano de 2004.

Aos 39 anos ingressa na Universidade Estadual de Minas Gerais, se tornando Bacharel em Artes Plásticas, pela Escola Guignard e aos 43 se forma, com habilitação em Litogravura por Thaís Helt, concluída em 2007 e habilitação em Pintura por Thereza Portes, concluída em 2008.

A partir da própria escola, se especializa em montagens finas de exposições e levantamento de obras de arte, seguindo princípios museológicos internacionais, nos maiores museus, galerias, fundações e universidades de Belo Horizonte, utilizando-se de materiais técnicos importantes, junto a um grupo treinado de artistas plásticos, percorre Casa Fiat de Cultura, Palácio das Artes, BDMG, CCBB, UFMG, Museu da Vale, entre tantos outros, inclusive Brasília e São Paulo

E junto a esta demanda, com suas mãos protegidas, tocou, admirou, conservou e fixou nas paredes das galerias o trabalho de artistas gigantes nacionais e internacionais e sem nunca ter parado de produzir sua arte e com toda esta bagagem, continuou desenvolvendo pesquisas em gravura, transferências, pintura, desenho, colagem, fotografia e cerâmica sempre produzindo e realizando exposições coletivas em diversos espaços de Belo Horizonte.

Experiências artísticas vividas com pintura no projeto Museu do Museu criado em BH e contemplado pela lei, onde imersivamente durante meses exerceu o oficio, com o grande artista Léo Brizola o responsável pelas oficinas, enriqueceu ainda mais seu processo de produção na pintura.

Com atelier fixado no bairro Santa Tereza passou a produzir muito, dar aulas, promover oficinas e encontros artísticos, montando exposições diversas.

Em 2014 assume um espaço físico da família, um galpão de 360m2, nomeado Galpão Paraíso 44, no Bairro Paraíso em B H, fora do eixo cultural, onde faz dele sua galeria e espaço de trabalho, junto a dois amigos e inicia as atividades de atelier coletivo e exposições coletivas colaborativas, estremecendo o mercado de arte de Belo Horizonte.

A partir daí reúne muitos artistas e sua primeira exposição criada e concebida através de convites pessoais a artistas de seu conhecimento e de colaboradores, reúne 52 artistas de Belo Horizonte onde foram expostas mais de 350 obras, como nos antigos Salões de Arte da Europa. Nunca havíamos visto tantas obras reunidas numa harmonia incrível, com leitura e expografias perfeitas que encheram os olhos de BH, outras exposições acontecem, cursos, oficinas, saraus, festas, encontros, reunindo todas as artes entre tantas outras vivencias proporcionadas.

Prossegue seu caminho por 4 anos buscando sempre alternativas para gerar financeiramente o espaço mas em setembro de 2019 encerra as atividades do espaço deixando saudades em todos que ali estiveram.

Em deserto pleno, após um Paraíso construído e o exercício do desapego, ao fechá-lo, chega a pandemia do Coronavírus e naturalmente mantém seu deserto, fixando residência em Santa luzia, numa casa de campo pertencente à família há 30 anos junto a seus pais, onde então, pode reunir seus estudos, seus trabalhos, sua produção artística de muitos anos e se organizar para realmente preparar a primeira exposição individual.

Somando suas pesquisas sobre o feminino, o sagrado, o profano, a ancestralidade, a espiritualidade, a cor, a forma, as nuances, as aguadas, o invisível, o Eu superior, os Vortex de força, os Chakras, a autoconhecimento, a compaixão, o amor e o Universo, o pensamento pictórico, as notícias da Nova Era, a natureza em abundância, a conexão com Gaia, mais o resultado de tantas experiências vividas dentro da comunidade artística e na sua vida de lutas femininas, surgiu então:

Fragmentos Azuis habitam nossos corpos celestes, com curadoria de Amanda Alves

Assim prossegue seu caminho, já se preparando e executando novos trabalhos a serem apresentados ao público em breve.

Exposições:

Arte que celebra a vida

Museu Regional do Norte de Minas | Montes Claros | Curadoria: Saara Diniz |10-12-2021

Fragmentos azuis Habitam nossos corpos celeste

Atelier / galeria | Santa Luzia – MG |Curadoria: Amanda Alves | 16-10-2021 | Exposição Individual    

Encontro

Museu Regional do Norte de Minas | Montes Claros – MG |Curadoria: Saara Diniz | 21-09-2021

Artigo 5* Uma ode à Liberdade

Curadoria Compartilhada entre os artistas | Grande Hotel Ronaldo Fraga | Belo Horizonte – MG | Outubro – 2019

A Dança das Cadeiras

Curadoria Hogenério | Shopping Ponteio | Belo Horizonte -MG | 08-2019

Ciclo

Curadoria construída com o grupo das artistas da exposição | Galpão Paraíso | Belo Horizonte – MG | 17-08-2017

Projeto Atelier

Galeria da Prefeitura de Contagem | Contagem – MG | 04-10-2017

Arco BH II

Galpão Paraíso 44 | Belo Horizonte – MG | Curadoria: Raquel Isidoro | 31-05-2017

Arco BH I

Casa Mangabeiras | Belo Horizonte – MG | Dezembro de 2016

Ocupação Galpão Paraíso e Casa camelo

Exposição, performance, oficina | Curadoria Sesc | Galeria GTO – Sesc Palladium | Belo Horizonte – MG

fARTura  2º Edição

Galpão Paraíso 44 | Belo Horizonte – MG | Curadoria: Raquel Isidoro, Léo Brizola e Sergio Arruda | 24-06-2016

No paraíso

Galpão Paraíso 44 | Belo Horizonte – MG | Curadoria: Raquel Isidoro | 23-10- 2015

RefARTura

Galpão Paraíso 44 | Belo Horizonte – MG | Curadoria coletiva com os artistas e Raquel Isidoro | 28-08-2014

fARTura

Galpão Paraíso 44 | Belo Horizonte – MG | Curadoria: Raquel Isidoro, Léo Brizola, Sergio Arruda | 11-06- 2014

Premiados Mostra Interna

Galeria da Escola Guignard | Belo Horizonte – MG | Curadoria Ana Cristina Brandão e Marco Tulio Rezende | Março de 2009

X Mostra Interna Escola Guignard Prêmio

Galeria da Escola Guignard | Belo Horizonte – MG | Curadoria: Ana Cristina Brandão | Outubro de 2008

Fotográfica

Curadoria: Patrícia Franca | Funarte Ministério da cultura | Belo Horizonte – MG | 08-08-2007

Pensamentos Visuais – Litografias

Curadoria: Thais Helt | Galeria de Arte Nello Nuno – FAOP | Ouro Preto – MG | 13-09- 2007

Ensaio fotográfico para exposição Registros do Artista Marcus Venuto / Publicação

Galeria da Cemig | Belo Horizonte – MG | 11-11-2005

“IX Mostra Interna da Escola Guignard”

Galeria da Escola Guignard | Belo Horizonte – MG | Curadoria Ana Cristina Brandão | Novembro de 2005

Fragmentos azuis habitam nossos corpos celestes – Exposição individual

Trabalhos desenvolvidos pela artista em várias linguagens fazem parte desta primeira exposição individual, após quase 13 anos de estrada pela Arte. Pinturas e desenhos em diversos suportes, colagens, transferências compõem a mostra. 

Com sua pesquisa relacionada as questões do feminino e ao movimento Simbolista surgido na Europa em meados de século XIX, passa a conhecer conteúdos e artistas da época.

A pesquisa iconográfica traz ao seu olhar pintores, artistas gráficos, mestres em pintura decorativa entre grandes nomes da nossa história e sendo atraída pelas abordagens pessoais e revolucionarias, pela coerência das composições, a fala sobre o sobrenatural e fantástico, os símbolos, as criaturas imateriais, os sonhos, as logicas na construção do desenho, as ideias eternas de beleza amor e felicidade. O encantamento pelas imagens e títulos, fizeram com que a artista retirasse personagens destas pinturas, recriando novas cenas, novos espaços e novas realidades surgindo: “Fragmentos azuis ocupam nossos corpos celestes.”

Cria através das imagens diálogos entre feminino e masculino entre rituais do Sagrado ligados ao mundo espiritual e cósmico.

A busca incansável pelo autoconhecimento, transitando por caminhos diversos da espiritualidade, assumindo a existência corpo, mente e espírito, seus pontos energéticos, suas sensações, seus chakras, sua intuição, seus sonhos e visões, o sagrado feminino como experiência vivida junto a aproximação da natureza compõem o assunto que processa sua arte, onde simbolicamente chama a observação.

Desenhos de criação da artista onde o camaleão aparece como símbolo da readaptação ao meio, símbolo da transmutação são relacionados a natureza da mulher.

O resultado destas imagens, hora xerocadas e coladas, hora desenhadas ou pintadas, muitas vezes representadas pela figura feminina, contrapondo-se as vezes ao masculino, cria tensões entre relações, energias, transmutação e transmissão de pensamentos.

Diálogos silenciosos por entre os céus se instalam na composição de seus trabalhos.

A artista discute a ancestralidade e espiritualidade, habitando nesta realidade um corpo feminino, vivendo nossa ascensão planetária, interligada a Gaia e ao Universo buscando saber a que veio.

Raquel Isidoro

Se reapropriar do corpo: “O mundo deveria ser “desencantado” para ser dominado.[1]

Em “Calibã e a Bruxa”, Silvia Federici lança um foco de luz sobre a perseguição ás bruxas para compreender a constituição desta figura que concentra em si a personificação do “outro”, do inimigo, aquele que deve ser contido ou eliminado. Segundo Federici a bruxa era “a encarnação de um mundo de sujeitos femininos que o capitalismo precisou destruir: a herege, a curandeira, a esposa desobediente, a mulher que ousa viver só, a mulher obeah que envenena a comida do senhor e incitava os escravos à rebelião. ”[2]   Só uma significativa potência de resistência ao crescimento da avalanche capitalista justificaria uma reação tão violenta no sentido de sequestrar a vida e toda a forma de ação das mulheres dentro do jogo social. O expurgo pelo fogo, sem possível alternativa de defesa ou argumentação, foi apenas uma das estratégias elaboradas para minar as forças das almas, mentes e corpos femininos.

Na construção da modernidade o corpo feminino foi usurpado como máquina de produção de mão de obra para alimentar a massa proletária da industrialização. A arte ocidental, amparou a composição de um imaginário paralisante sobre o corpo ideal feminino, repositório da beleza, da fragilidade, da moral e do devotamento familiar. A produção das imagens da representação da mulher, com algumas exceções, era realizada quase exclusivamente por mãos masculinas.

No século XXI, ainda prolongamos a permanência de aspectos da modernidade. Porém, embora a violência e suas nuances ainda corroborem para a contenção do poder feminino, já existe lucidez suficiente para alimentar a luta das mulheres contra a opressão e a morte. É necessário retomar o corpo usurpado, habitar a alma e a mente. As obras de Raquel Isidoro, que temos a oportunidade de conhecer nesta mostra, colaboram para a reflexão e para a inspiração destes levantes.

Numa série que combina colagem e pintura, a artista se apropria das imagens femininas produzidas por artistas europeus da segunda metade do século XIX, em sua maioria simbolistas, e reivindica estas interpretações dos corpos femininos para inseri-las em novos cenários celestes. O que se opera é a retomada do protagonismo da representação de si numa comutação da autoria.

Os corpos femininos se juntam á personagens de seu próprio imaginário, para colocar em diálogo tempos distantes cronologicamente. Nossos corpos ainda não são completamente nossos, o projeto da modernidade ainda não cessou de usurpar nossa liberdade, mas é necessário um movimento na direção da consciência de si. As obras de Raquel Isidoro manifestam metaforicamente esta retomada dos corpos, uma apropriação do que nunca deveríamos ter perdido, o direito a produzir imagens que nos representam.

Fragmentos do céu: “O céu se move, é sempre instável” [3]

As figuras apropriadas e apresentadas na obra de Raquel Isidoro encontram um novo espaço visual: pedaços do céu que a artista constrói com variações pictóricas entre a azul e branco, aludindo à imaterialidade e à instabilidade da atmosfera, ao etéreo e ao espiritual. O azul, tão raro na natureza terrestre e tão presente no céu e nas águas compõem a maior parte das superfícies onde se relacionam suas figuras que raramente estão encerradas no espaço pictórico, muitas delas insinuam uma continuidade além das margens das pinturas e desenhos.

Em seu repertório iconográfico, camaleões, totens, vênus ancestrais e seres imaginários compõe uma coleção de signos que remetem a conceitos de transformação, de adaptação, de conexões corpóreas e incorpóreas, ao equilíbrio entre feminino e masculino, entre espaços, tempos e corpos diversos.

A construção pictórica é plana, não há grandes acúmulos de tinta sobre as superfícies. Raquel transita entre a opacidade e as transparências, entre a linha e as formas cheias. A profundidade dos fundos celestes não é mensurável, contrasta com o plano onde as aparições de suas figuras se relacionam, numa sobreposição figura e fundo bem demarcada, como metáfora das relações entre matéria e espirito.

Seus dípticos e múltiplos sugerem uma unidade fragmentada, que poderia, com algumas exceções, estender-se a toda sua produção, como se a artista seguisse num caminho de construção de uma única obra, conectada através dos espaços de céu. Suas obras se relacionam como uma constelação infinitamente expansível, que conecta o universo inteiro das suas composições.

No poder das conexões se sustenta também uma das forças femininas minadas pelo estabelecimento da caça ás bruxas e pela perenidade das concepções de gênero inauguradas no surgimento da sociedade capitalista. A força das mulheres reside em parte na rede de conexões que se estabelece no cotidiano e também pode se metaforizar no poder de agenciamento de uma produção artística como a proposta nesta exposição.

Referências

Federici, S. (2017). Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. (C. Sycorax, Trad.) São Paulo: Elefante.

Kopenawa, D., & Albert, B. (2010). A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. (B. P. Moisés, Trad.) São Paulo: Schwacz S.A.

[1] (Federici, 2017, p. 332)

[2] (Federici, 2017, p. 27)

[3] (Kopenawa & Albert, 2010, p. 196)

Texto de Amanda Alves

Amanda Alves

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